28.3.07

Sonho

Um dia azul,
eu me sinto e amarela o ar.
Eu estou amarrada,
dos pés ao pescoço.
Me debato, me sacodo,
gasto toda a força.
A impressão que tenho é de que a corda só aperta mais e mais.
Mas a água espirra.
Estou molhada como um cão na chuva.
Me sacodo e as gotas de água espirram.
A corda me ata, a água não.
Sei que se eu escorresse, a corda escorreria junto,
está grudada em mim.
Continuo me debatendo
sem expandir.
Eu posso ver:
no ar, minha água encontra o amarelo
e acidifica.
Cristaliza e cai,
lentamente.
Desgruda da pele e voa,
sem alcançar o chão.
E eu sei que estou caindo junto,
me sinto imergir.
Me concentro,
quem sabe me salvo?
As gotas ainda orbitam ao meu redor.
Nelas eu vejo,
uma a uma,
toda a acidez.
Sinto o quanto queima.
Eu sinto.
Gradualmente os cristais começam a quicar em mim,
ácidos.
Vou vendo o ir e vir,
deixando os cristais orbitarem.
Formam círculos ao meu redor,
eu vejo,
batem e voltam mais ácidos,
pra bater de novo.
O amarelo vai escurecendo até ficar marrom
da cor do sangue,
marrom da cor da corda.