2.10.12

Elvira Matilde

Desde que eu mudei para Brasília eu achava um desperdício tanta área verde e tão pouca gente a usando. Eu pensava que um dia iria criar o hábito de descer, tomar sol, ler um livro... enfim... Desde que estou "a toa" em casa, tenho frequentado mais a área verde daqui da quadra - sempre de passagem, é verdade - mas também é verdade que minhas passagens até o mercadinho ou até a manicure têm sido cada vez maiores (vocês me conhecem, basta um passarinho, algumas plantas diferentes ou um mísero ipê florido pra me distrair por pelo menos cinco minutos).
Hoje eu e o Thi saímos de casa cedo para ir fazer SUP no lago. Acordamos cedo (1º milagre do dia), tomamos café em casa (dadas as atuais circunstâncias, este pode ser considerado o 2º), passei protetor (não, não consegui o 3º milagre em tão curto tempo, o Thi foi sem protetor mesmo...), coloquei o biquini, vesti aquela minha saída de praia que comprei no bazar da Elvira Matilde, e fomos para o lago. Chegamos no clube no horário marcado (4º milagre) e esperamos bastante pela moça que nos entregaria as pranchas alugadas. Esperamos até desistir. Deixei o Thi no trabalho e voltei para casa de carro, biquini e protetor passado.
Sem obrigação de cumprir horário em nenhum lugar e com a intenção de aproveitar o tempo e estudar um pouco, subi, peguei um livro e me mandei pro jardim que tem bem aqui na frente do prédio entre um bloco e outro, mas de certa forma afastado da L2 (avenida vizinha aqui de casa) e fora de qualquer rota de passagem (a não ser que seu destino seja o Bloco K ou o L). Ao encontrar uma boa área ensolarada, estendi a toalha, tirei o vestido, deitei sob o sol e comecei a ler - praticamente a realização de um sonho.
Bem, o importante é que em determinado momento, duas senhoras passam pelo jardim colhendo os abacates que já estão começando a cair dos galhos. Elas começam a fazer alguma algazarra e eu me sento para saber o que está acontecendo. Acabo por estabelecer contato visual com uma delas. Ela acena, eu aceno de volta e logo elas estão do meu lado, perguntando se não chamava muita atenção eu ficar ali de biquini... Bom, papo vai e vem, rapidamente elas simpatizaram com a minha atitude e começamos a conversar, sem o elefante branco (aka, meu corpo de fora) entre nós. Nisso, descobri que elas são pessoas interessantíssimas. Uma delas - a Dona Elvira - é viúva de um antigo ex adido militar do cairo, e me prometeu contar várias histórias sobre a vida em um país árabe e sobre os lugares onde ela morou e pôde desfrutar do que diz ser "uma verdadeira democracia". A outra - Dona Matilde - é paulista de Santo Amaro, meu; e ela está em Brasília pra ajudar o filho que trabalha na UnB a ajeitar a mudança. Ao nos despedirmos, elas me presentearam com dois dos abacates e combinamos um horário para tomar sol amanhã, dessa vez, elas vêm de biquini.