4.9.06

mundo cruel

Por que eu não consigo ficar quieta eu vou contar a história do pé de pêssego que tem lá perto de casa, só por ter mais nada pra falar, por estar de bom humor e tagarela. Não tem metáfora nenhuma aqui.

Lá na pracinha alguém plantou um pé de pêssego. É uma árvore mirradinha e feinha que tem lá, bem na heitor penteado, parece que vai morrer a qualquer hora. Nunca dei nada pra ela, nem ninguém. Aí, há um tempinho atrás ela começou a dar um botãozinho de flor - as folhas todas tinham caido, só reparando bem é que dava pra ver o botão. Os galhinhos marrons escondiam aquela bolinha branca. Pra saber dela, tinha que parar pra olhar a árvore. E lá não é lugar de parar, a heitor é uma via de fluxo até que intenso, ninguém pára por ali, e se pára, é pra esperar o ônibus. Nessas grande avenidas não se proseia parado pra não perder tempo. Tudo, todos passam rápido por ali, até o próprio tempo. Assim, as bolinhas foram se multiplicando até que um dia, antes da hora do trabalho, uma delas explodiu. E pronto: tava ali, bem no meio da rotina da heitor penteado, a florzinha mais bonita da região. E ninguém via; mesmo quando os galhinhos mirradinhos já estavam forrados de florzinhas; salpicados de branco e rosa, nin-guém parava. Eu também nem reparei mais; tinham tantas e estavam ali todos os dias, acabaram virando parte da mesmice. Outro dia, lancei o olhar na árvore, e no lugar das florzinhas, vi alguns pêssegos, também pequenininhos e delicados (eu queria saber onde é que tem outro pé de pêssego pelo bairro...).
Hoje, depois de muito procurar a árvore, escondida no meio da paisagem cinzenta, vi que não tinha mais nenhuma fruta.

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