Em Halbwachs, as noções de tempo e espaço são estruturantes dos quadros sociais da memória, ambos instâncias solidárias entre si, fundamentais para a rememoração do passado na medida em que as localizações espaciais e temporais das lembranças são a essência da memória. Nada escapa, nem mesmo a memória, a esta trama de consolidação das estruturas espaço-temporais que configuram a existência social, uma vez que é da combinação dos seus diversos elementos, através da linguagem, que pode emergir a lembrança das memórias individuais.
Halbwachs reconhece, de muitos modos, a vibração do tempo no conteúdo material das lembranças, atribuindo à memória o princípio “intencional” e “imaterial” de uma coordenação entre as diferentes temporalidades e as regiões do espaço em que se produzem, visto serem as lembranças solidárias das regiões da experiência social, as quais, por sua vez, lhe são irredutíveis. (...) O Tempo revela-se cada vez mais como duração, preenchido por falhas e lacunas, fenômeno que reflete o arranjo da matéria pela vida, o que lhe permite referir que a memória, na linha do que afirmará Bachelard posteriormente, é tributária da sinergia de múltiplas causalidades, tanto formal quanto material, e onde o fluxo temporal contínuo da consciência, proposto pelo bergsonismo, se esvanece.
Neste sentido, a memória não se configura apenas num tradicionalismo de cunho nostálgico e sentimental, mas nos mitos, saberes, fazeres e tradições que são perenizados, ordinariamente, no interior das manifestações culturais humanas, a contragosto das intimações objetivas de um devir, “numa seqüência de fixações no espaço da estabilidade do ser”.
(Ana Rocha e Cornélia Eckert. Os jogos da memória. Revista Ilha, n.1. Florianópolis, dezembro de 2000, p. 71-84)
13.10.10
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